Frisar na lei de Deus pode ser uma coisa boa, quando utilizado como corretamente espelho para nos enxergarmos como pecadores, para andarmos em constante arrependimento, para falarmos aos incrédulos do arrependimento, para que cheguemos a Deus com um coração humilde em oração levando nossas súplicas de perdão e ajuda, pois pela Lei enxergamos nossa total incapacidade e necessidade dEle, e também como defesa, para evitar um prejuízo, para evitar que se imponha algo que não aceitamos em nossa consciência contra nós, para defender a nossa doutrina diante dos assédios das heresias deste mundo; mas se usamos como imposição nossa contra nosso próximo é sempre uma coisa ruim. Daí chamamos legalismo, quando se frisa na Lei além do que é devido, ou quando se inventa novas regras (leis) além do que Deus deu nas Escrituras.
Além da Lei, Deus nos dá também o Evangelho, que nos promete salvação, companhia divina, bênçãos espirituais, esperança, amor, fé, que só faz promessas e só traz boas notícias. É no Evangelho que nos apegamos quando chegamos com confiança e esperança em Deus, mesmo sendo nós pecadores e falhos. Mas também há perigo em se frisar só nisso, podendo produzir liberalismo e descaso com as ameaças da Lei e a exigência de santificação.
É realmente um desafio muito grande saber separar a Lei e Evangelho. Lutero já dizia:
“Aquele que sabe como distinguir bem o Evangelho da Lei deve dar graças a Deus. Esse eu sei que é um teólogo de verdade” (Martinho Lutero)
Ser cristão não é “oba oba”, não é uma falsa liberdade irresponsável que faz vista grossa com as coisas erradas, egoístas, irresponsáveis, perigosas, destrutivas, mortais, enfim, as iniquidades que são cometidas por nós, humanos em geral.
Cristianismo tem regras a se cumprir, que é o que chamamos “Lei de Deus”. Essa Lei é toda sobre amor, sobre amar a Deus acima de todas as coisas e amaro próximo como amamos a nós mesmos, e nos dá orientação de como viver nesta vida e na porvir, como tratar nosso próximo, como nos relacionarmos com Deus. Esa Lei é a Lei moral que Deus deu aos homens escritas pelo seu próprio dedo e por ela ele rege as nações e também é a orientação e norma para os regenerados agirem naturalmente de acordo com ela, mas também ter como freio para sua carnalidade ainda presente depois da regeneração e também como espelho para reconhecer humildemente a salvação pela graça de Deus.
A Bíblia é Lei e Evangelho, sabemos da nossa condenação pela Lei e sabemos da nossa salvação pelo Evangelho.
Tudo que é regra, tudo que é ameaça, tudo é “Faça”, que é “Faça isso, senão..”, ou “Faça isso, para que..” é Lei.
Tudo que é “Eu fiz” é Evangelho, tudo que é “Venha, aproveite, já está consumado” é Evangelho.
A Torah, o Pentateuco, os livros de Moisés que têm as leis de Deus para a humanidade e também para Israel somente, é dividida em 3 seções, as leis morais, as civis e as cerimoniais. As leis morais são os dez mandamentos e toda a orientação da Bíblia sobre como seguir a Lei moral. As leis cerimoniais sendo as leis acerca do sacerdócio, do culto judaico e da adoração a Deus. E as leis civis as punições e aplicações pelos governos, reinos e Estado das leis da Torah. Os cristãos acreditam que as leis cerimoniais e civis passaram, eram sombra de Cristo e não podem levar a Deus, eram somente para Israel e mostraram a falha humana em seguir a Deus então Deus nos deu liberdade e salvação por Cristo a nós de graça. Mas somente a Lei moral pode nos fazer enxergar nossa condição de pecadores e nos fazer entender a necessidade do Evangelho. Deus rege as nações e todas as pessoas pela Lei moral do amor a Deus e o próximo tb, ou seja os dez mandamentos (Rom 13:1-11). Deus nunca exigiu das demais nações ou ameaçou punir por causa de leis cerimoniais ou civis, apenas pela Lei Moral. Todos seremos julgados por Ele pela Lei moral. As outras leis passaram, por que eram sombra..
Calvino dizia:
“Todas as palavras da lei moral normalmente são chamadas de decálogo, ou dez mandamentos. Ela é chamada de lei moral, porque é a regra de vida e costumes.
A lei moral é perfeita. “A lei do Senhor é perfeita.” . Salmos 19: 7 É um modelo exato e plataforma de religião; é o padrão da verdade, o juiz das controvérsias, a estrela polar para dirigir-nos para o céu. “O mandamento é lâmpada. Pv 6: 23. Embora a lei moral não seja um Cristo para nos justificar, é uma regra para nos instruir.
A lei moral é inalterável; ela ainda continua em vigor. Embora as leis cerimoniais e JUDICIAIS são REVOGADAS, a lei moral entregue pela própria boca de Deus é de uso perpétuo na igreja. Ele foi escrito em tábuas de pedra, para mostrar a sua perpetuidade.”
Theodore Beza, sucessor de Calvino em Genebra, reforça:
“O que chamamos de Lei é a doutrina cuja semente é escrita pela natureza em nossos corações. Entretanto, para que nosso conhecimento fosse mais preciso, ela foi escrita por Deus, em duas tábuas e é compreendida, resumidamente, em dez mandamentos.”
Johann Shlaginhaufen, aluno de Lutero, revela que esse também era o pensamento do principal reformador do protestantismo:
Quando Martinho Lutero se referia à Lei, ele se referia aos 10 Mandamentos.
E esse é precisamente o ensino bíblico sobre a Lei:
A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.
Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor.
(somente os 10 mandamentos aqui de novo)
Romanos 13:8-10
A Lei traz apenas uma sombra dos benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos. Por isso ela nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.
Hebreus 10:1
Uma observação sobre os dez mandamentos, algumas religiões dizem que como os dez mandamentos falam de um dia para descansar e os judeus tinham regras cerimoniais e civis que determinavam um dia específico para isso, muitos fazem confusão achando que o shabat se refere a um dia específico e uma maneira específica de se guardar, mas o shabat moral, que em hebraico se traduz como “descanso”, ou seja, Deus ordena que se trabalhe seis dias e se tire um para descanso físico e culto ao Senhor, mas é diferente das determinações das leis cerimoniais e do civis, no novo testamento, em Gálatas 4 e Colossenses 2, Paulo explica que na Nova Aliança não há necessidade de um dia específico para o shabat, tendo já passado as regras cerimoniais e civis. A Segunda Confissão Helvética explica:
Dia do Senhor. Por isso vemos que nas igrejas antigas não havia apenas certas horas da semana destinadas às reuniões, mas que também o Dia do Senhor, desde o tempo dos apóstolos, fora separado para as mesmas, e para o santo repouso, prática essa, acertadamente preservada por nossas igrejas para fins de culto e serviço de amor.
Superstição. Neste ponto, entretanto, não cedemos às observâncias dos judeus e às superstições. Pois, não cremos que um dia seja mais santo do que outro, nem pensamos que o repouso em si mesmo seja aceitável a Deus. Além disso, guardamos o Dia do Senhor, e não o sábado como livre observância.
Ainda sobre o tema, o site do programa “Hora Luterana” elucida o tema com detalhes:
Quando se questiona entre guardar o sábado ou o domingo, devemos ter em mente a diferença que existe entre lei cerimonial e lei moral. Lei cerimonial é tudo aquilo que, no Antigo Testamento, implicava a prática e a forma do culto judaico na vida religiosa do povo. Exemplo disso são os sacrifícios de animais que deviam ser feitos para obtenção de perdão de pecados; as leis a respeito do comer ou deixar de comer determinados alimentos; leis a respeito de determinadas doenças e sua purificação; leis que envolviam a observância de dias e de fases da lua etc. ( Cf. o livro de Levítico ).
Lei moral compreende tudo aquilo que implica a maneira de viver dentro ou fora da religião judaica. Exemplo: Não matar, não adulterar, não mentir, não roubar, não dar falso testemunho etc. O decálogo, pois, é o resumo da lei moral. Ainda é importante observar que Deus jamais ameaçou de castigo um povo não-judeu que não guardasse a lei cerimonial, mas, qualquer povo, judeu ou não, está sob o juízo de Deus por não guardar a lei moral. É isso que leva à necessidade de qualquer povo crer em Cristo para obter a remissão. A lei cerimonial foi dada só ao povo de Israel, para reger o culto judaico e apontar para o Messias, que deveria vir. A lei moral foi dada a todos os homens da terra em todos os tempos. Diante dessa exposição, precisamos ver se a lei do sábado era cerimonial ou moral.
Podemos dizer que o sábado, em parte é lei cerimonial e, em parte, é lei moral. O aspecto cerimonial do sábado consistia em determinação de um dia certo da semana ( o sétimo ) para descanso, no qual não se podia trabalhar e em que era lembrada a obra da criação e o descanso do próprio Deus. O aspecto moral do sábado consistia na principal razão por que Deus determinou a observância desse dia: ouvir e guardar a palavra de Deus. No seu aspecto cerimonial, a observância do sábado só era exigida do povo de Israel e dos estrangeiros que estivessem vivendo em meio a esse povo ( Êxodo 20.10 ). No seu segundo aspecto, que era ouvir e guardar a palavra de Deus, o sábado é extensivo a todos os povos de todos os tempos. A atitude de Cristo em relação ao sábado é fundamental para uma melhor compreensão do assunto. Em primeiro lugar, Cristo jamais repetiu a lei do sábado-cerimonial, enquanto que citou várias vezes os dez mandamentos ( cf. Mateus 19.16-22; Marcos 10.17-22; Lucas 18.18-23 ). Quanto ao ouvir e guardar a palavra de Deus sempre, Jesus, como todo o Novo Testamento, são abundantes em citações e recomendações. Além disso, lembramos que Jesus se declara “o Senhor do Sábado” ( cf. Mateus 12.8 ). Isso ele faz num contexto em que ele mesmo permite a seus discípulos uma atitude contrária à lei cerimonial do sábado: colher espigas pelas searas. Que sentido teria este “ser Senhor do Sábado”, senão o de Jesus se declarar poderoso para abolir o aspecto cerimonial que envolvia o sábado? Vejam-se, ainda, as muitas curas que Jesus efetuou em sábados sob críticas dos chefes religiosos, as quais Jesus sempre rebateu ( João 9.16 ). O apóstolo Paulo ainda disse em Colossenses 2.16: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.”
Assim chegamos à pergunta: Por que o domingo? Teria Cristo nos libertado de um julgo para nos submeter a outro? O domingo não foi instituído por nenhuma lei. Foram os primeiros cristãos que, na sua liberdade, escolheram o domingo, dia em que Cristo ressuscitou, para descansarem dos trabalhos e terem ocasião para servir e adorar a Deus em conjunto e guardar a palavra de Deus de um modo especial. Assim, além de propiciar oportunidade de ouvir e guardar a palavra de Deus e, dessa forma, cumprir aquele aspecto espiritual e universal, o domingo também lembra a liberdade que Cristo nos trouxe. Liberdade completa e total. Liberdade do poder do diabo, da morte e do pecado. Liberdade do julgo de lei cerimonial. Se alguém entende que, ainda hoje e fora da religião judaica, se deva guardar o sábado no seu aspecto cerimonial, então, por coerência, também deverá guardar as demais cerimônias que, no culto judaico, estavam compreendidas nessa lei: sacrifícios, comidas, bebidas, dias de festas, fases da lua etc.
O dia do descanso é cumprido hoje através do amor a palavra de Deus. Nesse sentido, o louvor a Deus em qualquer dia, o trabalho na igreja, a oração em qualquer hora, enfim, todo o serviço e adoração prestados a Deus, no culto do domingo, ou em outro dia, ou ainda fora do culto, será tido como obediência ao mandamento do dia de descanso.
Deus não nos julgará pela observância de um determinado dia da semana. Ele nos julgará pelo aceitar ou não a sua palavra, pelo crer ou não nas suas promessas. O sábado lembra o descanso de Deus após a obra da criação do mundo. O domingo lembra a não menos importante obra, que foi a ressurreição de Cristo, a vitória do filho de Deus e nossa vitória sobre a morte.
Voltando ao tema, a Lei Moral, que é naturalmente gravada nos corações de todos os homens, é que direciona a moralidade humana. Caim, o mundo de Noé, Babel, Sonoma e Gomorra, são exemplos de julgamento feito baseado nessa lei moral antes de Moisés receber essa lei escrita em duas tábuas diretamente por Deus, que são os mandamentos para todas as eras e pessoas da história, enquanto as outras foram dadas indiretamente por inspiração para um povo e um período específico. Portanto, ela, a Lei Moral, sempre foi vigente e nos orienta as nossas consciências mesmo que não se leia um versículo da Bíblia. Só que é pela Bíblia que podemos conhecer melhor essas leis e entender a aplicação delas é pela Bíblia que conhecemos o Evangelho, que nos fala da salvação.
O problema é que nossa natureza pecaminosa rejeita essas leis e não temos vontade de cumprir essas leis, que são boas e nos dão vida com qualidade através do amor, da gentileza, da auto-preservação, da vida em sociedade mais tranquila, da vida em família mais prazerosa e, principalmente, do relacionamento com Deus mais completo e íntimo. Nós sempre tendemos a querer fazer as coisas do nosso jeito, agir não com amor, mas com egoísmo; não com misericórdia e perdão, mas com proporcionalidade (sob o pretexto de “justiça”); não com honestidade, mas com usura; não com bondade, mas com retenção; enfim, são muitas as desculpas que arrumamos para fazer as coisas do nosso jeito e não queremos admitir nunca que o nosso jeito é o jeito errado, temos a propensão, como pessoas carnais que somos, a nos achar melhores e mais sábios que Deus. Como cristãos, mesmo regenerados, não conseguimos ainda seguir a Lei de Deus como se deve e por ela somos condenados, por isso a Bíblia chama a Lei de maldição. Porque por ela somos amaldiçoados e condenados, sendo salvos pelo cumprimento e sacrifício de Jesus, para que Ele seja a nossa justiça. Por isso temos que sempre vigiar nossos passos e viver em constante arrependimento, por amor que o Evangelho nos traz, visto que pela Lei não alcançamos esse amor.
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